Projeto 54 – 13ª edição: Inspirações dos artistas para Carta 10

Muitos historiadores discutem sobre quem realmente inventou a 1ª carta de baralho. Alguns dizem que foram os chineses, outros afirmam serem os árabes, ou ainda, que foi na Índia que se deu início a tudo. Também há muito debate sobre o significado por trás de seus símbolos.

Qualquer que seja sua origem, não há dúvida sobre a popularidade dos jogos, mesmo em uma época virtual. No entanto, mesmo que as cartas hoje sejam frequentemente associadas a diversão e passatempo, elas também já carregaram muitas controvérsias. 

Cartas do baralho — obra do Diabo?

Ao ler o título acima, a 1ª coisa que precisamos lembrar é que o baralho existe há muitos séculos, muito antes de estarmos familiarizados com o que ele representa no mundo atual.

Se voltarmos às cartas na Europa medieval, onde no topo da pirâmide estava o clero, logo abaixo a nobreza, e na base os servos, veremos na história que elas eram muito relacionadas a bebidas, jogos de azar e uma série de outros vícios que atraíam trapaceiros e charlatães para a mesa, causando muitos desentendimentos.

“Livro ilustrado do Diabo”

Como a igreja católica era a mais poderosa organização na época, em certo momento, isso se tornou perturbador – e as autoridades proibiram as cartas.

No livro The Game of Tarot, o historiador Michael Dummett explica que em 1377, uma portaria proibia o baralho em dias úteis em Paris. 

Logo, em toda a Europa houve decretos semelhantes. À medida que surgiam pregadores, eles eram convencidos de que o passatempo apenas aproximava a pessoa da depravação. Os jogos de cartas então, foram considerados um “livro ilustrado do Diabo”.

Tarot = desobediência, rejeição das escrituras

Mais tarde um pouco, no século 16, na Europa, com o fascínio pela astronomia, alquimia, misticismo, surgiram os truques de mágica, a interpretação oculta e a ‘adivinhação’ com as cartas.

A igreja então condenou as práticas como pecados. O Tarô era visto como uma desobediência; proibido na palavra de Deus, por ser uma rejeição da oração e das escrituras.

Até hoje, muitos religiosos discutem sobre o assunto. A resposta desse padre resume a questão: “Se o diabo está por trás dessa evolução, depende muito de sua visão da vida e sobre o problema do bem e do mal no mundo. Como tantas outras coisas na vida”. 

CARTA 10 – INSPIRAÇÕES 13ª EDIÇÃO / PROJETO 54

Agora, é hora de conhecer os responsáveis pela Carta 10: Guigo Rua, Rafa Figueiredo, Samuel de Gois e Barbara Tristão.

GUIGO RUA

Paulistano suburbano, nascido e criado na periferia de Parelheiros, Zona Sul de São Paulo, Guigo Rua teve seus primeiros contatos com a cena artística através do hip hop, como emecee. Em 2014, iniciou um curso de fotografia que o levou ao mundo do audiovisual.

Durante a pandemia, sem poder sair de casa, por estar acostumado a fazer diversos trabalhos fotográficos, começou a se aventurar pela arte ao testar ferramentas do Photoshop, criando colagens digitais com temática social, racial e política. Também voltou a ter contato com o Judaísmo, filosofia em que o sagrado e a cultura se misturam.

Assim, uniu suas referências com a arte de rua, transformando inspirações em lambes e manifestos de vida. Guigo confessa que sempre foi muito tímido; suas colagens são as rimas que nunca conseguiu escrever ou gravar. Com isso, quer expressar ao mundo assuntos que o incomodam.

Sua carta, o 10 de Paus, une referências dos quadrinhos da década de 70 (algo que curte muito), a cultura judaica (que sempre está presente em sua vida), além das flores, elemento que assina sua arte (“onde puder florescer, floresça, ele complementa que é seu lema). A máscara, para Guigo, é como um auto-retrato. Ela demonstra muito de suas emoções:

“Brinco que este é um auto-retrato, que fala do meu eu interior. Passamos pela pandemia, por um governo que deixou sequelas na sociedade, e isso para mim parece algo apocalíptico, apesar de não acreditar no apocalipse. É muito distópico, por isso não podemos deixar de usar uma máscara para nos proteger sempre, pois ela nos lembra o passado e nos remete ao futuro, neste contexto da tecnologia, ficção cientifica e do cyber punk”.

RAFA FIGUEIREDO

Rafa Figueiredo aproveitou a pandemia para experimentar as tirinhas, já que nunca havia feito HQ. Gostou tanto que decidiu lançar ‘Defeito de Fábrica‘, seu site e página no Instagram para publicar alguns trabalhos. O hobby começou a crescer e no mesmo ano, criou a XPTO, revista on-line que reúne trimestralmente quadrinistas.

Psicólogo de formação, nestes dois anos, Rafa passou a se dedicar aos desenhos e aos poucos entendeu melhor o meio. Em 2021, Defeito de Fábrica foi duplamente indicado ao Troféu HQ MIX como melhor web tira e melhor publicação independente. Em 2022, concorreu ao 37.º Prêmio Angelo Agostini como melhor web quadrinho. E não parou mais.

Ao se inspirar nas cartas de tarot “o Diabo” e “Roda da Fortuna”, Rafa criou seu 10 de Copas para a El Cabriton. “Eu sou péssimo em jogos de baralho, então minha ideia foi a de emoldurar a carta e deixar como decoração”.

SAMUEL DE GOIS

Quando criança, Samuel de Gois fez cursos de desenho e pintura. Mais tarde se formou em Publicidade, e até hoje trabalha com Direção de Arte e Design. Da capital da Paraíba, João Pessoa, onde ele diz ” ser um dos lugares que salvaram o Brasil do Bolsonaro”, produz HQs, ilustrações e textos.

O artista começou em 2004, no finado Fotolog, e com o passar do tempo foi migrando de rede para rede; já participou de coletâneas, lançou zines e livros. O mais conhecido deles é ‘Fibrilação’, publicação que recebeu o Troféu HQ MIX de melhor projeto gráfico em 2021.

A série teve início em 2017, quando o autor se propôs a fazer uma narrativa gráfica, através da forma do coração humano. Em Fibrilação, por mais de um ano, Samuel publicou em suas redes sociais, um coração por dia.

Com o 10 de Espadas nas mãos, logo pensou em Pamela Smith. Como unir os traços característicos P&B de seu trabalho, com a referência e criar a carta para a El Cabriton? Ele comenta:

“Primeiro pensei na Carta de Tarot 10 de Espadas ilustrada pela Pamela Smith, que é uma pessoa completamente perfurada pelas tais dez espadas. Depois, decidi que daria o contexto da silhueta do coração, como fiz na série Fibrilação. Mas ainda precisava de algo a mais, para não parecer uma imitação da genialidade da Pamela. Vi meu enteado brincando de Pula-Pirata da Estrela, e o resto é baralho.”

Samuel de Gois

Por fim, se Samuel pudesse presentear apenas uma pessoa com o baralho, ele escolheria seu enteado: “Quando ele for mais velho e puder perder tudo em apostas”.

BARBARA TRISTÃO

A família de Barbara Tristão, 20 anos, sempre incentivou muito o consumo de arte e música. Além disso, ela cresceu vendo a avó materna pintar. Desenhar, desde criança, sempre foi algo muito natural. Barbara nunca deixou de se inspirar e praticar, até que percebeu sua enorme conexão com a arte.

Foi em 2016 que ela se deu conta que ‘esse’ era o seu lugar. Daí pra frente, se dedicou para evoluir nos estudos. No auge da pandemia, em 2020, acabou enxergando o momento como uma ótima chance para desenvolver ilustrações, e desde então, explora narrativas que considera importante, busca aperfeiçoar cada vez mais a sua identidade dentro da ilustração digital e impactar outres de maneira positiva.

Ao ser convidada pela El Cabriton, a artista conta que queria muito que sua carta tivesse uma estética leve, mas impactante ao mesmo tempo.

Através das cores, ela procurou trazer este impacto visual sem precisar carregar os traços em seu desenho. Além disso, utilizou uma cena do cotidiano, como sempre costuma fazer em suas criações, que trouxesse, ao mesmo tempo, uma sensação de tranquilidade e reflexão.

“Ao escolher uma paleta mais quente, usei as variações do vermelho e laranja com o verde, que complementa os dois tons situados no outro extremo do círculo de cores”.

Barbara pretende enquadrar a carta e pendurar pra lembrar de sua conquista e do trabalho lindo de tantos artistas talentosos!

“Foi a 1ª vez que participei de um projeto assim e tem sido muito especial. É importante ver o impacto que um trabalho feito com carinho e dedicação tem por aí. Acima de tudo, o Projeto 54 abre muitas portas pra artistas novos serem descobertos – e eu sou um deles!”

PROJETO 54 – 13ª EDIÇÃO

O Projeto 54 traz uma variedade infinita de estilos e artes. Além disso, por cada carta ser criada por um artista diferente, já passaram por aqui +700 nomes.

Este ano entrevistamos cada um deles para saber um pouco mais sobre suas inspirações: identidade visualAsesCarta 2Carta 3Carta 4Carta 5, Carta 6, Carta 7, Carta 8, Carta 9 e Curingas. ❤

A El Cabriton tem como ideal um mundo com mais arte. A 13ª edição do nosso baralho tem tiragem única, limitada e é impressa pela COPAG

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