Reis, rainhas, valetes. Desde que os árabes incluíram figuras no deck do baralho, as cartas trazem imagens inspiradas na corte. O propósito era mostrar a força, o poder da nobreza e de sua riqueza. Porém, como sempre, as mulheres não foram representadas.
Até o século 15, o rei e dois vice-reis faziam parte das cartas de baralho. Os franceses foram os primeiros a incluir rainhas, a única figura feminina entre todos os naipes, que também é conhecida como Dama.
Na contramão do país vizinho, a Espanha (e parte da Itália), substituiu elas pelos caballeros montados (cavaleiros). Na época, o baralho alemão possuía reis, homens superiores (obermann) e homens inferiores (untermann), excluindo completamente também as rainhas como seus personagens. Alguns registros descrevem que essa foi a atitude que levou à criação do valete.

Quem são as figuras das rainhas nas cartas?
Sempre existiu controvérsia a respeito das personalidades femininas nas cartas, por isso, muitas delas nunca foram 100% identificadas. Estas são as sugestões da história do baralho:
- ♠ Rainha de Espadas – uma homenagem à deusa grega Atena;
- ♦ Rainha de Copas – inspirada em Judite, da Bíblia católica;
- ♥ Rainha de Ouros (dúvida se é realmente) – seria Raquel, a mulher de Jacó;
- ♦ Rainha de Paus – baseada na deusa Argia, mãe de Argus;
RAINHAS – 13ª EDIÇÃO / PROJETO 54
Descubra agora as inspirações dos artistas responsáveis pelas incríveis rainhas da 13ª edição do Projeto 54. Conheça Felipe Marques, Nicole Bustamante, Nani e Iris Yamamura.

FELIPE MARQUES
Felipe Marques é artista visual, designer de moda e gestor cultural. “Moro em um feudo iluminado chamado Ribeirão Preto. E mais importante que tudo isso, sou gay. Sempre fui uma criança queer e, devido toda a repressão que nossos corpos sofrem em uma sociedade patriarcal e heteroterrorista, eu acabei amadurecendo mais rápido e encontrei nas artes uma forma de expressar o que sentia e o que não podia sentir“, comenta.
Na infância, o desenho e a pintura sempre foram muito presentes na vida de Felipe. A arte era uma forma de se transportar para outro lugar, onde tudo era possível. Apesar de amar criar e imaginar, não tinha parado pra pensar que isso poderia vir a ser uma profissão.
Foi durante a graduação em design de moda que começou a entender a importância e relevância que isso tinha em sua vida. Desenhar moda evoluiu para desenhar sentimentos, e hoje, Felipe usa disso para falar sobre as dores e delícias de ser parte da comunidade LGBTQIAP+.
Para sua carta, buscou inspirações dentro do universo lúdico e infinito dessas vivências.“Representar a luta e o empoderamento de pessoas queer é o cerne da minha arte. Assim, quase de imediato, me veio a ideia de ilustrar a carta ‘dama de paus’. Para mim, extremamente emblemática e que traria espaço e luz aos corpos ininteligíveis”.
Felipe buscou trabalhar com cores e texturas que transgredissem os padrões binários sociais. Brincou com o que há entre o feminino e masculino, entrelaçou imagens tão fixas no imaginário social. Mostrou que o corpo biológico não está interligado ao gênero e muito menos a orientação sexual. “As identidades de gênero são livres, infinitas e em constante construção e desconstrução”.
“Arte é diálogo. É falar aquilo que as pessoas não conseguem, é trazer à tona o que existe de melhor e de pior. É uma ferramenta que liberta corpos e corpas. É resistência, representatividade, luta e potência. Uma linguagem que comunica mais que palavras, que incomoda e toca na ferida. Arte é política, expressão, cultura e individualidade”.
Para ele, o espaço criado pela El Cabriton é muito importante para dar visibilidade aos artistas independentes do Brasil.
NICOLE BUSTAMANTE
Nicole tem a moda em sua trajetória profissional; também trabalhou como designer e diretora de arte, no entanto, sua verdadeira paixão (obsessão, ela diz) é a ilustração, especialmente o estilo surrealista e a fantasia.
“Eu nasci querendo ser ilustradora, parecia óbvio que iria seguir esse caminho, mas quando chegou a hora de entrar para o mercado de trabalho, era muito desencorajada. Optei pelo mesmo de muitos da minha geração; fui designer/ diretora de arte para tentar encontrar um meio de me expressar criativamente nesses espaços”.
Mesmo assim, a ilustradora não foi feliz neste papel, que a ensinou muito, apresentou muita gente bacana e a fez continuar a parceria com agências, mas de uma outra forma. Depois de muito tempo em crise, Nicole decidiu ter a coragem de focar na carreira da ilustração autoral.
Para sua carta, a artista se inspirou nas gravuras e artes do período em que reinava Elisabeth I. Os corações anatômicos, presença constante em seus trabalhos autorais, também foram colocados junto a Rainha de Copas. “Eu não sou monarquista, mas penso que se existe um ser que nasceu para a realeza nesse planeta, é o gato!”
Nicole considera a arte um lugar de sobrevivência.
“Quando a vida e a realidade se apresentam em crise, ou seja, constantemente, a arte oferece um lugar de acolhimento, é meio de expressão de sentimentos, nos conecta com uma comunidade, cria mudanças. Eu acredito no poder transformador da arte porque eu fui uma criança impactada positivamente por ela. Acho que se não tivesse isso, não teria chegado até aqui viva”.
A ilustradora admira e apoia a iniciativa do baralho da El Cabriton, que incentiva a produção da arte autoral, e acredita que a marca tem uma relação estreita com diferentes tipos de artistas. “É um prazer estar junto a tantos colegas que admiro imensamente e fazer parte disso”, finaliza.
NANI
Designer, artista autodidata e criativa, Nani é quem assina a arte da Rainha ♠. Seu trabalho faz uso de muitas cores e é influenciado, principalmente por padrões botânicos, formas geométricas, pelo cotidiano e por suas vivências.
Ana desenha desde criança. Sempre teve interesse por arte e em produzir as coisas com foco na criatividade. Costumava pintar pano de prato com a avó, mas logo passou para o papel, depois para as telas – e agora, ela diz que encontrou seu caminho na ilustração digital.
A designer começou, inclusive, a usar seu dom artístico como ferramenta para combater preconceitos, por meio de quadrinhos educativos. A ideia foi tomando novas formas. Hoje, ela conta histórias através de seus desenhos e busca expressar a individualidade como mulher, nordestina e autista.
Ao criar sua rainha, Nani incluiu em seu estilo, alguns itens que nos conectam com essa rainha; uma espada, a coroa, o símbolo feminino, batom.
Ana já trabalhou com marcas incríveis como Disney, Redbull, L’occitane e Linus – atualmente está na Nubank.
IRIS YAMAMURA
Iris Yamamura, ilustradora amarela do RJ, mas que mora há 10 anos em SP, é daquelas pessoas que desenhava desde pequena. Na infância, morou no Japão – e isso a influenciou muito. Foi quando descobriu o anime no Brasil que despertou para a arte, como um ponto de partida.
“Lembro que com 10 anos eu decidi que ia desenhar bem, rs. Então, a minha escolha de faculdade se deu por aí. Cursei Artes, mas fui trabalhar em publicidade. Estou há 14 anos nessa área, mas paralelamente, nunca larguei a ilustração.”
Em 2022, ela decidiu que ia desenhar comidas. Baseada nisso, a ideia para sua carta foi então, bem simples: criou duas minas não-brancas comendo.
Seus pais sempre a incentivaram a nunca parar de desenhar, por isso, Iris os presenteou com esta edição do baralho.
GARANTA O SEU!
O Projeto 54 traz uma variedade infinita de estilos e artes. Além disso, por cada carta ser criada por um artista diferente, já passaram por aqui +700 nomes.
Este ano entrevistamos cada um deles para saber um pouco mais sobre suas inspirações: identidade visual, Ases, Carta 2, Carta 3, Carta 4, Carta 5, Carta 6, Carta 7, Carta 8, Carta 9, Carta 10, Curingas e Valetes.
A El Cabriton tem como ideal um mundo com mais arte. A 13ª edição do nosso baralho tem tiragem única, limitada e é impressa pela COPAG.
[…] Este ano entrevistamos cada um deles para saber um pouco mais sobre suas inspirações: identidade visual, Ases, Carta 2, Carta 3, Carta 4, Carta 5, Carta 6, Carta 7, Carta 8, Carta 9, Carta 10, Curingas, Valetes, Rainhas. […]