Cores, texturas e camadas sobrepostas na sensacional Fachada de nº 128 por Mari Castello

Ilustradora, muralista, tatuadora e artista visual, Mari Castello une em seus trabalhos muitas cores em texturas e construções de camadas sobrepostas, partindo de qualquer suporte que valorize a técnica, conectando o atelier e a rua, dois ambientes que fazem parte de sua produção há anos.

Mariana inicia seus projetos artísticos com anotações e esboços, para depois virarem modificações do acaso durante a construção do trabalho. “Desenho, fotografia, materiais que coleto das ruas e colagens, são algumas das diversas plataformas que utilizo para expressar minha visão de espaço”.

A artista é a dona da fachada de número 128 da El Cabriton e divide conosco um pouco de sua visão do mundo, até chegar até aqui. Confira entrevista feita por Carol Moré, do FTCMag, para o Blog da loja:

Mari Castello, queria que você falasse um pouco sobre como chegou até a sua arte/ilustras.

Mari Castello: Bem, é uma longa história de uma criança que seguiu sempre desenhando e produzindo arte plástica.

Minha mãe é professora de Artes e por conta disso sempre tive bastante incentivo, fui cercada de arte e conteúdos técnicos e teóricos logo cedo. Foi um desenvolvimento bem natural e genuíno.

Dentro dos meus privilégios, pude estudar Artes Visuais. Me esforçava pra entender de tudo um todo dentro do universo das Artes! Sempre fui muito curiosa, cara-dura e comunicativa. E trabalhar com arte foi uma consequência no meio dessa vivência.

Nesse meio, quais suas inspirações? 

Mari Castello: Fugir do que já é costumeiro nas minhas produções (formas, cores, texturas, composições) pra não cair numa repetição contínua.

Me inspira acordar cedo, passar um café ou fazer um chimarrão, iniciar ou dar sequência num trabalho. Raramente termino uma arte (pintura, escultura, xilogravura, colagens,…) em um dia.

Tenho percebido minha produção se alinhando nesta ordem: camadas, bagunça, catarse e por fim eu tentando organizar o caos feito. Dentro disso tem muita política, dores, experimentos, acasos dentro do processo de criação, histórias, música, groove, dança, filmes, fotografias, filtros de instagram, materiais disponíveis no atelier, minha conexão com a rua e muitas coisas que adiciono de objetos recolhidos de alguma história e passeios.

Tem tanta coisa que inspira que as vezes vale revisitar trabalhos passados e me re-ler ou então simplesmente me desligar da internet e deixar vir algo naquele instante.

Quando nada surge eu limpo a casa e organizo o atelier. Tomo um banho, relaxo e escrevo um pouco. Listagem de tarefas, textos e poemas.

O que você tem lido, ouvido, visto, quais são suas referências preferidas no momento?

Tenho estudado muito sobre a política desde nossa última eleição. Leio muito El País, Carta Capital, podcasts de jornais, opiniões de filósofos, cientistas políticos, biólogos, poetas como a Matilde Campilho ou Silvia Federici, em Calibã e a Bruxa, sobre feminismo e acumulação primitiva.

E como você definiria o seu estilo de trabalho?

Não sei. De verdade (risos).

Na real, não acho muito saudável essa ideia de “estilo” ou “identidade”. Acaba que cai na pauta do/da artista que se limita eternamente na mesma linha de produção e perde-se a poesia da criação artística. Ser artista é ser cientista. Experimentar o que é experimental, sem limitações nem temáticas.

//// Sobre o mural da El Cabriton: 

Você sempre pinta murais. Existe alguma dificuldade em expor seus trabalhos neste tipo de superfície?

Desde meus 14 anos sempre pintei grandes suportes: telas, pintura mural e graffiti. Sinto mais dificuldade para suportes pequenos.

Pode contar como é seu método de trabalho neste caso? Faz rascunho?

Não gosto muito de planejar o que pinto. No caso da fachada da loja senti a necessidade pra ter uma guia, mas muita coisa foi alterada na hora da pintura de acordo com as deformidades da calçada, volumes e textura da parede, mas sou desapegada com isso e gosto disso quando pinto na rua.

Tem muita coisa que foge do controle: a escada, as pessoas parando pra conversar, o material que termina e tu precisa encontrar outra saída. É como um jogo que você precisa resolver o problema e encontrar o equilíbrio no caos. 

Na esquina da Rua Augusta, onde fica a loja, sempre acontecem várias coisas inusitadas. Enquanto você pintava a fachada, alguma cena te marcou? 

Rolaram dois pedidos de orçamento, o ator baiano Luís Miranda passou super elogiando enquanto descia a Augusta, outro fotógrafo super querido ficou por alguns minutos contando histórias, um pichador muito simpático também parou pra conversar um pouquinho e elogiar o trabalho.

Outra cena muito questionável foi a de um homem que, sem que eu pedisse ajuda, parou a ensinar eu e minha assistente, como deveríamos posicionar a escada, sendo que pinto na rua há 15 anos e já subi em muita escada e andaime, mas ok. No segundo dia de pintura meu companheiro foi comigo e nenhum homem me parou para ensinar nada sobre a escada.

Se você pudesse pintar em qualquer muro do mundo, qual seria?

Gosto muito de conhecer lugares. Não tive grandes experiências além de já ter pintado no Chile, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná (Curitiba), São Paulo e Minas Gerais (Santa Rita do Sapucaí).

Tenho muito Brasil e América do Sul pra pintar ainda, mas Nova Iorque, Los Angeles, África, Amsterdã, Alemanha seriam lugares que eu piraria um tanto de conhecer e pintar!

Que assim seja, Mari! Acompanhe o incrível trabalho de Mari Castello no Instagram.

Imagens: Fotógrafa Cris Santoro

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