Karina Kosugue é artista visual, letrista e designer de objetos. Trilhou seu caminho dentro das agências publicitárias, mas o ambiente corporativo e a arte digital não a encantavam mais. Foi aí que decidiu fazer alguns cursos. Primeiro foi a marcenaria, depois a pintura de letras, filetagem, marchetaria – e não parou mais.
Hoje ela tem um projeto chamado Carga Seca – Arte da Carroceria, onde insere desenhos de filetagem e pinturas de letra popular em novas estruturas.


CARROCERIAS DE CAMINHÃO COMO INSPIRAÇÃO
Nas carrocerias de madeira de caminhões, mais do que produtos, também viaja um tipo de arte, a filetagem. Há quem diga que ela é utilizada para identificar melhor os veículos; outros defendem que as pinturas dão “vida” ao transporte.
O ofício é antigo, iniciado na década de 50, e a hipótese é que no Brasil, tenha sido inspirada nos nossos hermanos argentinos que cruzavam as fronteiras com seus caminhões desenhados. Até hoje, a arte do fileteado portenho é consagrada na Argentina.
Em nosso país, a filetagem sempre esteve presente em todo o território. O estilo único e colorido de desenho viaja por todas as rodovias. É como se fosse uma linguagem nacional dos caminhões. Algumas imagens e frases até se repetem.
Porém, o desenho nas carrocerias, que ganhou muita popularidade na década de 80, atualmente está desaparecendo junto com as carrocerias de madeira e a contratação de frotas de transportadoras.
“Quando me dei conta de que essa memória cultural estava se perdendo, decidi me dedicar ao resgate desta arte e reintroduzir em nosso cotidiano, adequando a novos formatos e utilizando superfícies diversas.”
Karina Kosugue


A FILETAGEM
O nome filetagem surgiu por conta dos traçados do desenho, os filetes, geralmente feitos com uma carretilha, um tubo de tinta e um disco giratório na extremidade. Quando o disco gira, a tinta do reservatório é espalhada pela madeira, surgindo os traços. Mas a pintura também pode ser feita com um pincel simples, como é o caso da artista que se inspirou na ideia para transformá-la em arte.
A técnica consiste em desenhos abstratos, compostos por traços finos e precisos, com cores vibrantes. Karina faz um estudo profundo de combinações para que a palavra ou filete que ela desenha tenha a essência da arte vernacular.

SE MEU PARACHOQUE FALASSE
O processo de trabalho de Karina Kosugue começa na marcenaria. Ela dedica alguns dias para cortar e montar os painéis, geralmente usando madeira pinus ou de reuso. Depois, desenvolve a paleta de cores. Essas peças recebem uma pintura base conforme cada pedido. A partir daí, a artista dedica dias ao trabalho de pintura das letras e filetes.
No momento, além de fazer objetos de arte e murais com o estilo único, Karina também tem um projeto para que a pintura vernacular dialogue com a população e a reconheçam como uma arte genuinamente brasileira, dessa forma, criando um maior sentimento de pertencimento cultural.

AOS QUE QUEREM INICIAR NA FILETAGEM
Para aqueles que queiram iniciar com a pintura, a letrista recomenda fazer cursos de lettering, de pintura de letras e observar muito fachadas antigas, pinturas de muro e caminhões, pois segundo ela “A rua é uma escola.”



O que é mais inspirador sobre Karina Kosugue é que ela usa um gênero gráfico super original, o regionalismo e a tradição, para transformar sua arte. Assim, o feito à mão prevalece, se adapta e sobrevive em um mundo cheio de imagens digitais.
[…] Primeiro marcenaria, depois a pintura de letras, marchetaria – e não parou mais. Hoje seu trabalho autoral transforma novas estruturas e superfícies através dos desenhos de filetagem e pinturas de letra […]